sábado, 3 de agosto de 2013

A MORTE COMO MUSA INSPIRADORA

Os escritores André de Leones, Altair Martins e
Carlos de Brito e Mello, na primeira mesa da Flip 2012


A nova literatura brasileira, que aliás ganha uma edição especial da revista literária Granta nesta quinta-feira, marcou a primeira mesa da 10ª Flip. A nova literatura brasileira e a morte. O goiano André de Leones, o gaúcho Altair Martins e o mineiro Carlos de Brito e Mello se reuniram no palco principal da festa em Paraty para falar da presença da finitude em seus livros.

“Em A Passagem Tensa dos Corpos, eu parti da idéia de que, quando uma morte acontece, se inicia uma narrativa”, disse Brito e Mello, o último a falar e, apesar do carisma geral, um dos mais interessantes da mesa, que foi mediada pelo professor de literatura João Cezar de Castro Rocha. “Quando escrevia, eu lembrei da minha experiência de criança na casa dos meus avós em Visconde do Rio Branco, interior de Minas Gerais, onde a família se reunia aos fins de semana, especialmente na cozinha. Nessa cidade, os óbitos eram comunicados por um carro de som, na rua. Quando o carro anunciava um nome, todos na cozinha começavam a contar coisas da vida da pessoa, que então virava um personagem.”

Brito e Mello, que teve o romance A Passagem Tensa dos Corpos publicado pela Companhia das Letras em 2009 e foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura e do Jabuti, no ano seguinte, também trabalhou com a morte em seu primeiro livro, a reunião de contos O Cadáver Ri dos Seus Despojos. Aqui, a morte anda junto com a loucura – uma forma, segundo o mineiro, de falar da perda (ou a ampliação?) de sentido que a morte instala. Brito e Mello está terminando um novo livro, A Cidade, o Inquisidor e os Ordinários.

Outro a ganhar o público, especialmente por suas anedotas, foi o goiano André de Leones – “Na minha cidade, Silvânia, as mortes eram anunciadas pelas badaladas do sino da igreja e pela voz do sacristão, que dizia o nome do defunto. Uma vez, minha mãe ouviu o nome dela, Lúcia, e parou uns segundos para processar o que tinha ouvido.” Eu falei para ela, ‘Calma, você ainda está viva. Ou então estamos os dois mortos’”.

De Leones, que também trabalha em um novo romance, passado entre São Paulo, Brasília e Silvânia (GO), onde cresceu, falou da relação entre a literatura e a morte. “A literatura fala da transitoriedade, mas em vista do abismo”, disse. “Ela não salva ninguém, mas adia o inevitável, que a gente vai morrer.”

Por Maria Carolina Maia



05/07/2012  às 13:31 \ Vida literária Sérgio Rodrigues

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