quinta-feira, 15 de agosto de 2013

NOVA OPORTUNIDADE


AQUARELA



A T E N Ç Ã O:

AS INSCRIÇÕES DO CONCURSO LITERÁRIO TERRA DO SOL - POESIA E CONTO - FORAM PRORROGADAS, PORTANTO, PERMANECERÃO ABERTAS ATÉ O DIA TRINTA DE AGOSTO (30/08).  UMA NOVA OPORTUNIDADE PARA QUEM NÃO CONSEGUIU REALIZAR SUA   I N S C R I Ç Ã O   NO PRAZO INICIAL.

sábado, 10 de agosto de 2013




POESIA REVOLTADA 

ECIO SALLES

Apresentação

O que é erudito e o que é popular na cultura brasileira nos dias atuais? Será que no meio popular não existe o erudito? Onde o hip-hop se enquadra em nossa cultura?
Ecio Salles afirma:
Temos de um lado a cultura popular, dispondo de grande público e prestígio nos diversos meios de comunicação; de outro, a cultura das elites, restrita a pequenos círculos de iniciados, quase sempre ressentidos de sua escassa visibilidade.
O rap não é – nem será em sua forma atual – uma cultura de elite, seja ela dominante ou pensante. Mas é, isto sim, uma forma válida de manifestação cultural que, como todas as outras, tem sua “elite”, formada por seus expoentes, seus melhores artistas e seguidores.
No entanto continua, mesmo depois de três décadas, a mais erudita das expressões populares. Pelo preconceito da sociedade e pela fraca exposição na mídia, fica restrita a poucos. E sua peculiaridade reside aí: ele é ao mesmo tempo popular e erudito.
Ecio escreve com brilhantismo e competência sobre assuntos que, na maioria das vezes, são relatados de modo equivocado por aqueles que se dizem profundos conhecedores da cultura hiphop.


O rap – forte aliado na afirmação de identidades específicas, visto sua apropriação pelas elites – e o sampling, acusado de “necrofilia artística”, têm sido os alvos preferidos.
Contra essa corrente, temos rappers se valendo da palavra e de sua voz como arma que fala pela favela, buscando no passado brasileiro parentescos capazes de legitimar o seu modo de expressão. Este livro nos leva a uma profunda reflexão sobre o papel essencial que tem o hiphop nas comunidades brasileiras, e nos conta como alguns legítimos representantes o eternizaram através de suas poesias urbanas.

Raffaello Santoro (Dj Raffa)



Fonte: : Salles, Ecio de - Poesia revoltada / Ecio Salles. - Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007. il.;.-(Tramas urbanas; 3)



E... A POESIA MORRE?

Francisco Deliane


A poesia enclausurada n’alma libertou-se 

Na fuga esbarrou em um tinteiro, fez-se poema,

Suas impressões restaram gravadas no papel

Conclamando a todos a viver o espetáculo do amor 


Mas o poeta, agora, enclausurou o poema,

Na estreita gaveta de um criado-mudo.

Ali o poema amarelou como velha fotografia.

Na vida tudo passa.

É certo, o poeta passou, 

Seus herdeiros encontraram o poema

Abraçado a tantos outros

‘In memorian’ os publicaram.


Neste dia o poeta renasce junto a sua poesia

Dividida e compartilhada sem nenhum ciúme

O poeta sempre vai, porém, 

Renasce na leitura da poesia que fica. 


A vida sempre passa, mas o amor sempre permanece. 

O amor e a poesia nunca morrem.


sexta-feira, 9 de agosto de 2013


Ministra lança edital para fomentar programação cultural durante a Copa 2014

Serão aceitas mais de 206 propostas que resultarão em 1.200 apresentações

Da Agência Brasil





A ministra da Cultura, Marta Suplicy, lançou nesta quinta-feira (8) o Edital Cultura, que repassará R$ 18,8 milhões para a programação cultural durante a Copa do Mundo de 2014, nas 12 cidades-sede da competição: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Recife e Salvador. Serão aceitas mais de 206 propostas que resultarão em 1.200 apresentações nestes municípios, no período de 10 de junho a 15 de julho do ano que vem. Além disso, R$ 17,5 milhões serão destinados à revitalização de equipamentos culturais nas 12 cidades.


De acordo com Marta Suplicy, que lançou o edital na área onde está sendo construída a Arena Corinthians, em Itaquera, as inscrições começam nesta sexta-feira (9) e poderão ser feitas até 23 de setembro pelo pelo sistema SalicWeb no site do Ministério da Cultura. Uma comissão formada por representantes da sociedade civil, das secretarias de Cultura das 12 cidades-sede da Copa e do Ministério da Cultura escolherá os projetos que serão beneficiados.


O edital está dividido em quatro eixos nos quais os projetos deverão se encaixar: Brasil Audiovisual (produção audiovisual em média metragem, documentários, animação e ficção), Brasil Criativo (conteúdos artísticos em formato digital, de artesanato, moda, arquitetura, design e gastronomia, sempre de expressão local), Brasil Diverso (manifestações tradicionais, atividades entre Pontos de Cultura) e Brasil das Artes (espetáculos de música, teatro, circo, dança, literatura e artes visuais).


Marta explicou que os projetos circularão pelo país para que um estado conheça a cultura do outro, o que nem sempre acontece. “A cultura é a identidade do país, nossa cultura tem uma identidade nacional forte, positiva, com o samba, o futebol, o carnaval. O que nós temos que fazer é ampliar essa identidade porque somos muito além disso. Temos que mostrar o que as pessoas não conhecem, inclusive de um estado para o outro.”


A ministra ressaltou que o edital foi criado justamente para vencer o desafio de mostrar mais da essência cultural do país para os visitantes, que só conhecem o samba, o futebol e o carnaval. “Queremos mostrar os médios e pequenos grupos, porque os grandes já têm patrocínio”. Com a divulgação dos projetos, a ideia é dar a esses grupos oportunidade de se apresentar e deixar um legado cultural pós-Copa do Mundo, que se espalhe para os outros países, acrescentou a ministra.


Ela informou que a revitalização dos equipamentos será financiada pelo Fundo Nacional de Cultura e que, dos R$ 17,5 milhões, R$ 9 serão liberados ainda neste ano. “Nós temos ainda R$ 20 milhões da Petrobras para reforma dos museus, R$ 2 milhões para flash mob (manifestações culturais coletivas), R$ 12 milhões para fun fest (espaços montados para exibição dos jogos) e R$ 4 milhões para comunicação”.


Cada cidade-sede enviou ao Ministério da Cultura uma lista dos equipamentos que gostaria de reformar para a Copa do Mundo.




Prêmio Açorianos de Criação Literária recebe inscrições


Neste ano, a premiação vai destacar contos que tenham Porto Alegre como tema



Já estão abertas as inscrições para o Prêmio Açorianos de Criação Literária 2013. Nesta edição, o gênero contemplado é o conto, tendo como tema Porto Alegre. As inscrições podem ser realizadas até 30 de agosto na Coordenação do Livro (Erico Verissimo, 307; de segunda a sexta, das 9h às 12h e das 14h às 18h), pelo correio ou no site www.portoalegre.rs.gov.br. Mais informações pelo telefone (51) 3289-8071.

Copa de Literatura Brasileira promove disputa bem-humorada entre livros


Primeira fase do torneio começa na próxima terça-feira com confrontos diretos entre as obras

Copa de Literatura Brasileira promove disputa bem-humorada entre livros Daniel Conzi/Agencia RBS
Copa de Literatura: torneio inspirado no futebol premia melhor narrativa longa recenteFoto: Daniel Conzi / Agencia RBS
Depois de muita espera e ansiedade da torcida, na terça-feira o Brasil assiste ao início da Copa. Mas não a de futebol, naturalmente, e sim a de literatura. 

Em vez dos pelo menos 4 mil metros quadrados do campo, a etérea realidade virtual. No lugar de times bem treinados, uma penca de livros. Dos gramados para a biblioteca, chega à quinta edição a Copa de Literatura Brasileira, o evento mais futeboleiro das letras do país.

Os concorrentes foram pré-selecionados pelo júri a partir da lista de narrativas nacionais longas publicadas entre 2011 e 2012. Entre os participantes, jogadores de peso como o vencedor do Prêmio Jabuti, Nihonjin, e o recente trabalho de João Gilberto Noll, Solidão Continental. 

Outro forte concorrente é O Céu dos Suicidas, de Ricardo Lísias, que venceu a 4ª Copa com O Livro dos Mandarins pelo placar de 8x2. Lísias admite que não foi fácil chegar à final em 2011.

– Foi difícil. No começo não me sentia muito à vontade, não conhecia bem o terreno e estava ainda frio na competição. Aos poucos fui me aclimatando, o pessoal foi vendo o que eu podia e cheguei bem na final. Acho que fui crescendo durante o torneio – comenta o atual campeão, que destaca também O Sonâmbulo Amador como candidato à taça – simbólica – deste ano.

Na primeira fase da competição, 16 títulos se enfrentam em oito confrontos, livro contra livro: cada partida tem como juiz um crítico literário, que decide o vencedor em voto público e justificado – uma resenha, na verdade.

Após as quartas de final, a etapa de repescagem coloca frente a frente os perdedores das oitavas, ressuscitando mais quatro times. Os vencedores das quartas enfrentam os repescados naquela que foi batizada de rodada zumbi. 

Daí pra frente é semifinal e a grande decisão, no dia 29 de outubro, na qual todos os jurados votam. Os jogos – a publicação dos textos no www.copadeliretarura.com.br– acontecem às terças e sextas-feiras, ao estilo Série B do Brasileirão.

– Nos anos anteriores, o estilo mata-mata deixava muitos livros com a opinião de somente um jurado. Isso será diferente em 2013 – garante Lu Thomé, que organiza a competição ao lado de Lucas Murtinho e Raphael Dyxklay.

O escritor catarinense Carlos Henrique Schroeder, que apita o penúltimo jogo das oitavas, considera a Copa mais democrática que os prêmios literários.

– Os jurados emitem suas opiniões, fazem suas resenhas e as pessoas acompanham passo a passo. A Copa não tem fins lucrativos. É independente, não tem patrocínios, só apoiadores – defende Schroeder.

Quanto ao prêmio, quem ganhar a Copa não vai receber medalha nem dinheiro. Leva para casa as quatro resenhas positivas e o título oficial de campeão, a ser batido no próximo torneio.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Debate reúne biógrafo e filho de Marighella em Salvador

A revista Carta Capital promove, na próxima terça-feira (13/8), em Salvador, uma edição do projeto Diálogos Capitais sobre a atualidade do ideário do ativista político, guerrilheiro e poeta baiano Carlos Marighella. O evento vai acontecer na livraria Saraiva do Salvador Shopping, localizado na Avenida Tancredo Neves, às 19h30.

Entre os convidados para o encontro, estão o escritor Mário Magalhães, autor do livro “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo”, e o advogado Carlinhos Marighella, filho do guerrilheiro. A mediadora dos debates será a jornalista Cynara Menezes.

Nascido em Salvador, em 1911, Carlos Marighella foi um dos principais organizadores da resistência ao regime militar e chegou a ser considerado o inimigo número um da ditadura. Ele foi morto por militares, em São Paulo, no ano de 1969.

O livro

Eleito a melhor biografia de 2012, o livro sobre Marighella é resultado de uma pesquisa de 10 anos. Mario Magalhães, além de escritor, é jornalista, com passagens pelos jornais Tribuna da Imprensa, O Globo, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo.

De Salvador,
Erikson Walla
Teste de DNA com restos de Pablo Neruda será feito fora do Chile

AFP - Agence France-Presse
Publicação: 08/08/2013 08:45 Atualização:

Foto: Martin Bernetti/AFP Photo
Foto: Martin Bernetti/AFP Photo

Os exames de DNA para comprovar se os restos exumados em abril correspondem ao poeta e ganhador do Nobel Pablo Neruda serão realizado no exterior, e não no Chile, informou na quarta-feira uma fonte de sua família.

O exame faz parte de uma investigação judicial que visa a determinar se o poeta morreu efetivamente de câncer de próstata ou foi assassinado pela ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Os exames de DNA foram pedidos pelo juiz que conduz a causa, Mario Carroza, em 23 de julho passado, e serão realizados num laboratório estrangeiro não especificado, segundo informou o sobrinho do poeta, Rodolfo Reyes, ao site Emol.

Pablo Neruda teve apenas uma filha de seu primeiro casamento, e ela faleceu aos nove anos, na Holanda, por hidrocefalia. Os parentes mais próximos que continuam vivos são seus sobrinhos.

Os restos mortais do poeta estão sendo submetidos paralelamente a exames toxicológicos na Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e na Universidade de Múrcia, na Espanhaa.

Oficialmente, a morte de Neruda é atribuída ao agravamento de um câncer de próstata. Depois das recorrentes denúncias do ex-assistente pessoal Manuel Araya, de que o poeta pode ter sido envenenado, investiga-se se foi assassinado por agentes do regime Pinochet (1973 - 1990).

As primeiras perícias confirmaram que o poeta sofria de um câncer de próstata em estágio avançado, mas as análises toxicológicas ainda não foram concluídas.

"CREPÚSCULO NA CHUVA"

“Crepúsculo na Chuva” reúne 70 poemas.
Sessão de autógrafos tem entrada gratuita.
Do G1 PA
Comente agora
Poeta Francisco Deliane
O novo livro da poeta paraense Sarah Rodrigues será lançado nesta sexta-feira (9), em Belém. Durante o lançamento de "Crepúsculo com chuva", a autora também fará uma sessão de autógrafos, que começará às 14h. A entrada é gratuita.
O livro reúne 70 poemas que abordam temáticas envolvendo sentimentos como solidão, dor, perdas, celebração, sonhos e esperança. A autora conta que a motivação para escrever a obra foi a paixão por Belém e pelo universo de possibilidades que norteiam a Amazônia. “[Fui] movida pelo encanto de estar nesta terra abençoada de religião, fauna, flora, aldeias e culturas, que nos enchem de orgulho”, explicou.
Para José Antônio Silva Neto, que assina o prefácio do livro, os poemas “são, na verdade, um convite de Sarah. Ela nos pega pela mão e nos conduz nesse mar de sentidos que são seus versos”, disse.
Serviço
O lançamento do livro “Crepúsculo com Chuva”, de Sarah Rodrigues acontece nesta sexta-feira (9), das 14h às 18h, no Fórum Criminal da Cidade Velha, que fica na rua Tomázia Perdigão, 310. A entrada é gratuita.

O AMOR EM PALAVRAS


Peça ‘O Navio Negreiro’ é encenada em quatro sessões em Passos, MG

Espetáculo está no Guinness como a montagem há mais tempo em cartaz. Ator diz que perde até 1kg por apresentação com peso das correntes.
Do G1 Sul de Minas
Comente agora
Vado apresenta obra de Castro Alves em adaptação da própria autoria (Foto: Vado/ Arquivo Pessoal)Vado apresenta obra de Castro Alves em adaptação da própria autoria (Foto: Vado/ Arquivo Pessoal)
Estreia nesta quinta-feira (8)  no Teatro Rotary de Passos (MG) o monólogo ‘O Navio Negreiro’, baseado no poema de Castro Alves e encenado por  Benedito Irivaldo Vado de Souza, o Vado,  que encena 16 personagens.
O espetáculo, que tem duração de 1h40, e já foi apresentado mais de 10 mil vezes está no Guinness World Records – Livro dos Recordes – como a montagem teatral há mais tempo em cartaz: mais de 40 anos.
Já o ator, que começou com o espetáculo aos 23 anos, conta que chega a perder até 1kg por apresentação, já que leva ao palco acessórios como correntes que chegam a pesar até 30 kg.
Nesta montagem o ator apresenta adaptações e renovação de personagens.  Segundo Vado, entre os personagens estão um ‘Preto Véio’, um guerreiro e vários escravos, que dividem a história em dois tempos: o Brasil colonial e o momento atual.
“A peça mostra três momentos: o passado, o presente e o futuro, para que o próprio público tire suas próprias conclusões, mas o que prevalece é o bem e o amor entre os povos”, disse o ator.
Serviço
‘O Navio Negreiro’
Quando: Quinta-feira (8) e sexta-feira (9)
Sessões: às 9h30 (para escolas e estudantes) e às 21h para o público em geral
Quanto: R$ 20 (inteira) / R$ 10 (meia)

Duas Almas


Francisco Deliane



Amei teu corpo, ébrio de desejo. Teu seio alimentou-me

Carinhosamente senti tuas pernas entrelaçadas as minhas,

Porém, teu corpo, qual flor, antes ardente, desidratou-se,

Empalideceu, perdeu a cor, enrijeceu. Calou-se.



Veio o esquife, levou teu corpo, deixou a dor.

Ao amar teu corpo, amei, também, tua alma,

E esta, o esquife não levou. Ficando assim, definitivamente,

Gravada em mim, ardentemente, tua doce presença de amor



Ficou assim, tatuada em mim, tua dolorida ausência de amor

Tortura imensurável, sem medida, imposta a quem ama.

A cremação consumiu teu corpo, mas tua alma clama



Para que este amor infinito, insano e inacabado

Seja enfim plenamente renovado, quando te reencontrar

Alma feita de distância que tanto quero novamente amar.

'Um Rato de Três Cabeças', do estreante Thales Tabet, tem lançamento nesta sexta-feira

Capa do livro de Thales Tabet. Foto: Divulgação.

O estreante Thales Tabet lança "Um Rato de Três Cabeças", livro que relata a vida de um jovem entediado, morador de Ipanema, cuja família é destruída por conta do falecimento do patriarca, que se envolve em uma trama de violência mentiras e medos.

Quando Carlinhos completa 18 anos e recebe o direito de administrar a herança deixada pelo pai, a vida rica na alta sociedade carioca se transforma em sua maldição. Cheio de amigos, namoradinhas, carros, saúde, educação e boa casa, o jovem lida com a falta de afeto, atenção e amor materno.

A obra escrita pelo advogado de forma despretenciosa tem lançamento no dia 9 de agosto, às 18h, no Espaço Multifoco. Avenida Mem de Sá, 126 - Lapa. Preço sugerido: R$ 32.



Fonte: Redação SRZD

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A VINGANÇA OU O MAL DE VIRGINIA - CONTO DE FRANCISCO DELIANE


A VINGANÇA OU O MAL DE VIRGINIA



Virginia entrou placidamente na igreja. Ajoelhou-se. Após persignar-se rezou uma breve oração. Levantou-se, dirigiu-se ao altar, depositou sua oferta e voltou sentando-se na quarta fila de bancos, aguardando o inicio das orações coletivas que deveriam anteceder a missa daquela noite.


O tempo era novembro. Quanto à hora os ponteiros se estendiam verticalmente em sentido contrário um ao outro. Eram 18 horas em ponto. Ao olhar à hora e perceber que o ponteiro que marca os segundos parecia querer formar com os outros, um arremedo de crucifixo, embora sem um dos braços da cruz, Virginia sentiu medo em seu coração, possivelmente por pressentir o que viria acontecer ainda naquela noite.

Assim, enquanto permanecia neste devaneio um homem aproximou-se e sentou-se suavemente ao seu lado. Novamente uma conturbada sensação de angustia, medo, e prazer adentrou os seus sentidos.

Instintivamente virou-se e seus olhos encontraram os olhos daquele homem. Um homem de magnífica beleza. Sua roupa bem talhada demonstrava ser bem cara. As marcas que ostentava em seu vestir bem demonstravam isto. No pulso um“rolex”, e no bolso a caneta “mont`blanc” evidenciavam que aquele homem tinha dinheiro.

Os sapatos, de uma limpeza e brilho como se nunca houvessem tocado o solo ajudavam a consolidar a idéia de que aquele homem tinha poder. Virginia, timidamente ajeitou-se em seu assento. O homem sorriu.

No altar uma senhora de bastante idade, com um terço na mão concitou os fiéis a rezarem uma Ave Maria. Enquanto a oração começava Virginia pensou ouvir dos lábios daquele homem a expressão:

– In nomine Patris, et Filii, et Spiritus Sancti. Amen.

Involuntariamente virou-se para o homem que de forma como nunca d`antes houvera acontecido consigo chamava a sua atenção e fazia surgir em suas entranhas tão inusitado desejo.

A oração já não chegava aos seus ouvidos, e dela não participava, com efeito, sua mente viajava agregada às formas calorosas e aos lábios frescos daquele homem, que inexoravelmente a atraiam para uma confusão dos sentidos, e para um abismo nunca antes imaginado. O sexo pelo sexo. O prazer pelo prazer. A concupiscência da carne. O pecado. O Despudor. A imoralidade.

Virginia deixou cair de seu colo, “o catecismo da doutrina cristã” que houvera adquirido naquela tarde, ali mesmo na secretaria da paróquia. Como se por força de uma mágica silenciosa e imperceptível o homem apanhou o catecismo quando este ainda se encontrava em plena queda livre, e no afã de apanhar o livro antes de tocar o solo, o dorso daquele homem tocou o seio eriçado de Virginia, que sentiu um arrepio por todo o seu corpo, ao mesmo tempo em que o agradável cheiro daquele homem atingia-lhe o cérebro num emaranhado de sentimentos.

Mas aquele homem tinha algo estranho, e ao voltar a si, Virginia ouviu ao seu lado o homem balbuciar assim:

– Salve Regina, mater misericordiae, vita, dulcedo, et spes nostra, salve. Ad te clamamus exsules filii Hevae. Ad te suspiramus, gementes et flentes in hac lacrimarum valle. Eia, ergo, advocata nostra, illos tuos misericordes oculos ad nos converte. Et Iesum, benedictum fructum ventris tui, nobis post hoc exsilium ostende.

– O clemens, O pia, O dulcis Virgo Maria. Amen. 

O que seria aquilo. Porque aquele homem falava em uma língua fora de uso. Uma língua morta! Antiga! Seria ele membro de algumas destas obscuras irmandades e congregações ainda existentes e cuja utilidade não se sabe.

Aquele homem seria um louco? Mas o que é a loucura?

Poderia ela prejulgar aquele homem, simplesmente porque não estava falando a sua língua?

Se aquele homem fosse mau estaria naquele lugar sagrado. Sorrindo e rezando. Não. Definitivamente precisava esquecê-lo.

Virginia, também era uma menina de rara beleza. Ficara órfã no dia do seu sétimo aniversário, a mãe cortara os próprios pulsos e foi encontrada pela menina, que filha única permanecera sozinha na companhia paterna, até que este, também, se suicidara no dia em que a mesma completara quatorze anos.

Sem pai e mãe Virginia foi morar na companhia das freiras daquela pequena comunidade, por haver morado com as freiras podia assegurar que aquele homem rezava em latim.

Embora, todos a aconselhassem a tornar-se freira, Virginia não quis fazer os votos e aos dezenove anos deixara o noviciado, permanecendo praticante fiel de sua religião e ainda não havia experimentado nenhum contato sexual.

Aquele dia era o dia do vigésimo primeiro aniversário de Virginia.

Ao término da missa, o homem tocou a mão de Virginia e disse:


- Vem comigo!

Virginia o acompanhou sem nada dizer.

No dia seguinte a diarista que fazia a faxina no pequeno apartamento de Virginia, ao abrir a porta do banheiro, soltou um grito de absoluto terror.

Houvera encontrado o corpo nu de Virginia, caído na banheira, imerso em espuma, com os dois braços em cruz, jogados para fora da banheira e com os pulsos cortados, por cujos cortes se esvaíra todo o sangue que outrora controlara a temperatura ardente daquela menina, hoje mulher de raríssima beleza.

Na espuma havia algo escrito com o sangue que outrora circulara no corpo de Virginia.

O velho perito constatou apressadamente o suicídio. E lembrou que ele próprio houvera anos antes atestado o suicídio da mãe daquela mulher, igualmente bela e com a mesma idade desta. Lamentou ainda que àquele caso permanecesse sem solução, porque, apesar de declarado como suicídio, nunca fora sido encontrado o instrumento utilizado para o corte dos pulsos da mãe de Virginia.

O velho perito chamou seu colega, e juntos leram o que estava tingindo de vermelho a branca e cheirosa espuma que envolvera o corpo de Virginia em seus últimos instantes de vida, e persignou-se, ao ler:

– Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc, et in hora mortis nostrae. Amen. 



A estranheza do caso, e pior ainda, a sua estranha repetição, fez com que o Delegado envidasse todos os esforços na realização dos exames periciais efetivados no local do crime, constatando, porém, que:

Primeiro: As portas do pequeno apartamento, em número de duas apenas, e bem assim, as duas janelas ali existentes não foram arrombadas, permaneciam intactas e fechadas por dentro;

Segundo: No quarto de banho não fora encontrada nenhuma outra impressão digital, excetuando-se, as de Virginia;

Terceiro: O instrumento utilizado para a efetivação do suicídio não foi encontrado nem no banheiro e nem na integralidade do apartamento. 

Quarto: No apartamento não foi encontrado nenhuma mancha de sangue, excetuando-se aquelas encontradas próximas onde repousavam os braços inertes de Virginia, e aquela com qual se escrevera na espuma. Nada mais existia. Nada.

Depois que contei tudo isto, devo dizer que:

Virginia foi sepultada como se houvesse tentado contraa sua própria vida, e eu que a conhecia sei que não faria tão tresloucado gesto. Dediquei-me a investigar para encontrando a verdade fazer justiça a memória de Virginia.

Dentre os muitos lugares onde andei, estive na igreja. Lá, as pessoas não lembram de nenhum fato que tenha aptidão para elucidar o caso, contudo, conversei com a beata que faz a limpeza do local, e esta me confidenciou que no dia posterior ao da morte daquela moça, encontrou no piso da igreja um “catecismo da doutrina cristã”, novinho, mas estragado porque alguém houvera escrito nele com alguma tinta vermelha que até parecia sangue, os seguintes dizeres.



– “Valei-me Deus. Ele voltou. A vingança será completa. O que será de mim?”



Obs: As ilustrações foram retiradas do google sem indicação dos Autores. Este site respeita os DIREITOS AUTORAIS tão logo sejam identificados os créditos serão legalmente atribuídos.