O AMOR E EU
Francisco Deliane
Rico de sonhos contidos no infinito da ausência.
Apartado do meu próprio eu
estilhaçado e naufragado em tantas partes,
frações, ego, alter-ego e outras partições
partituras, urdiduras, dores e canções,
versos, prosas e histórias
signos, lembranças e mutilações...
Aberto ao mundo, desaferrolhado,
sem chave, sem cadeado.
Moribundo da filosofia e da razão
suspeito de ser feliz,
infeliz,
ou coisa assim
sigo entorpecido, ateu, a toa, incréu
neste vasto mundo de ilusão
perdido no concreto, indiscreto,
incompletamente vivido,
esgotado,
espoliado pelo amor que se foi
quando pararam as horas, os dias, os meses
as estações.
Permaneço
rico de sonhos não vividos
contidos
suados, sofridos,
órfão infantilizado da realidade que partiu
inculto
impuro
indecente
despudorado
na oralidade do sexo
na visualidade do beijo
na concretude da vida.
Permaneço assim tão crente
o amor retornará
porque o sonho, esmaece
a foto, desgastada amarelece
mas o amor quando é amor permanece.
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